9 de set. de 2009

Caminho dos Jacarés

Eu vou contar uma história que aconteceu há muito tempo atrás em um lugar chamado caminho dos jacarés. Melhor, não vou contar nada, mas vou te falar que foi no caminho dos jacarés onde eu perdi. O que eu perdi? Muita coisa.

Ao total eu perdi um amor, muitas histórias, a vida e o pior de tudo foi que perdi a música.

Eu me perdi no caminho dos jacarés.

O erro foi meu, me desculpe por ter me perdido e por ter perdido. Eu abandonei meus ideais depois que achei que tudo havia terminado, ou melhor, que eu não tinha mais pra onde ir. É que o medo tomou conta de mim e não consegui mais pensar, olhei para o lado e percebi que você não estava mais lá. Podemos chamar isso de começo ou de fim. Tudo depende de como você quiser chamar.

Eu vaguei pelo sol, debaixo do caminho dos jacarés e percebi que todos fugiam de mim. E foi nessa hora em que eu perdi minhas histórias. Uma vez que não havia mais personagens nem atores nem ninguém, então não haveria mais história.

Mesmo depois de estar tão só eu tentei continuar em frente, mesmo sem sentido e sem vida. Mesmo depois de ter tido quase tudo tomado de mim, pelo menos a ideia de que um dia eu chegaria a um lugar alimentava minhas forças para me fazer cantar, mesmo que em voz baixa, no caminho dos jacarés. Foi ai então que eu vi que havia perdido minha vida, por que estava só, por que já tinha perdido minhas histórias e agora estava perdendo minha cabeça, minhas idéias, a minha vida.

E quase no final era assim, eu no caminho dos jacarés, sem vida, sem histórias, sem ela. Eu já tinha deixado de ser eu há muito tempo. Não sabia mais o que eu era. Talvez essa tenha sido a única vez que eu fui algo de verdade, mesmo que vazio e perdido.

Foi então que do nada eu perdi a música. Foi do nada, por que pra mim eu jamais pensei que perderia a minha essência, o meu eu. Maldito e amaldiçoado seja o caminho dos jacarés. Como eu poderia ter perdido algo tão precioso que valia mais que a minha vida. Para mim aquilo já era sacrifício de mais, eu não conseguia mais. O caminho dos jacarés foi árduo pra mim e eu realmente quis desistir.

Até que então eu caí, com um baque, no chão seco. Nem lágrimas eu tinha para chorar, pois estava vazio de mim mesmo. Fechei os olhos como um sinal de desistência e com os restos das minhas forças vire-me para olhar o céu do caminho dos jacarés. Olhar o último céu que eu veria. Fui pensando em tudo que já havia perdido. Meu lugar, minhas histórias, ela, minhas músicas, minha essência.

Foi quando achei que tudo estava perdido e olhei para todo o caminho que já havia percorrido. De repente uma brisa soprou e então eu apareci. Não conseguia entender. Eu estava paralisado, estava olhando para mim mesmo. Para os meus olhos e o meu rosto. Então eu entendi tudo, todo o plano, todo o caminho dos jacarés. Foi quando eu percebi que eu nunca estive sozinho e sim que eu nunca estive comigo mesmo. Eu levantei sorrindo e percebi que minhas forças estavam novas. Eu me dei à mão e levantei, sorri para mim mesmo, acenei e saí correndo pelo caminho dos jacarés.

Eu entendi que não estava só mesmo depois de perder tudo. Eu entendi que mesmo se eu perdesse tudo, se eu perdesse as idéias, a vida, ela, a música, mesmo se eu perdesse tudo isso, eu não ficaria sozinho. Talvez essa fosse a única maneira de eu ficar só, mas só, comigo mesmo.

Só comigo, sem influências, sem meios, sem ideias, sem pessoas, sem palavras, sem sentimentos, sem nada. Essa foi a única maneira de eu me achar. Passando pelo caminho dos jacarés, perdendo tudo o que eu tinha, ficando nu da minha maneira, mas tendo coragem de me encarar mesmo depois do fracasso e ver que sem eu mesmo, eu não seria nada.